O regresso à terrinha reveste-se de um misticismo inexplicável.
Há algo diferente, um sentimento de aconchego.
Eu nasci no Porto. É no Porto que sou mais eu... É no Porto que começo e acabo... Mas um pedaço meu está aqui, e não posso perder este lugar de mim, correndo o sério risco de me perder.
Gosto de cá vir... Os dias aqui são mais longos, parece que o tempo pára. O tempo mente e diz que chega para tudo. Não chega, mas finge muito bem.
Durmo bem aqui. Como bem (demais) aqui... É quase visceral o prazer das antigas descobertas; os encontros com o sol e com as ruas em silêncio; o tocar do sino, límpido, puro, sem entraves. Um ou outro carro a passar, a buzina ao longe... Parece que os sons ecoam sem cessar. Os cheiros familiares estão por toda a parte. E os rostos reencontrados, já de tez enrugada e pouco enxuta, dão-me ideia que a vida tem de ser bem vivida.
Amanhã é dia de partir. Não parto com o desencanto de quem já tem a saudade do que acaba de deixar. Parto sabendo que, por poucas vezes que cá volte, vou seguramente gostar.
Pode parecer estranho, mas sinto que o tempo pára mesmo quando saio daqui. De cada vez que volto, olho em redor, muita coisa mudou mas, na essência, está exactamente igual. Como se esta cidade adormecesse num sono de paz de cada vez que me vê partir.